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Até a madrugada de hoje (3) eram mais de 8 mil tweets com relatos sobre
violências e assédios sofridos. Professores de escolas de ensino médio e
cursinhos pré-vestibulares estão entre os nomes divulgados em lista pelo
WhatsApp.
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*Antes de iniciar a leitura: há informações delicadas que podem desencadear
gatilhos traumáticos
Na noite desta terça-feira (2), mulheres caririenses se uniram para expôr
as inúmeras violências já sofridas em relacionamentos. Abusos psicológicos,
físicos, verbais e relações sexuais sem consentimento foram relatados no
Twitter com a hashtag #ExposedCariri. Nas primeiras horas da ação, o
assunto já era um dos mais comentados do Brasil na rede social.
Posteriormente, uma lista com os nomes dos acusados foi disseminada pelo
WhatsApp. Entre eles estão professores de escolas de ensino médio e
cursinhos pré-vestibulares. Não demorou para algumas mulheres sofrerem
ameaças após a repercussão.
“No início era um relacionamento normal, perfeito. Mas, com o passar do
tempo, tudo mudou.”, diz um dos relatos anônimos. Isso porque ela não se
sentia mais à vontade para ter relações sexuais. Inicialmente, o namorado
disse compreender, mas “foi se tornando tempo demais para ele suportar”. Ela
passou a sofrer com chantagens emocionais e viveu situações contra a
vontade. Ele não aguentava ouvir um “não”, ficava chateado, causava brigas e
mantinha uma lista com todas as negativas que ela dava como provas para
chantageá-la posteriormente. Esse é um dos relatos mais comentados por
outras mulheres, que dizem ter passado – ou ainda passar – pela mesma
situação violenta.
Uma quantidade alarmante de menores de idade relataram situações abusivas e
crimes sexuais que sofreram. Umas delas, de 16 anos, conta que no auge da
adolescência não consegue manter relações amorosas devido duas violências
sexuais sofridas na infância. O primeiro abusador foi um primo, o segundo,
um amigo da família. “Tem algo de “errado” comigo”, diz. O uso das aspas na
palavra que a culpabiliza deixa evidente o labirinto traumático em que vive:
em parte, reconhece que aquilo não foi responsabilidade dela, mas mesmo
assim se pune. Em apoio, mensagens que fortalecem a jovem e oferecem
ajuda.
Menores de idade também relatam que no ambiente escolar os professores
praticam assédio. Eles costumam oferecer notas, fazem comentários
constrangedores, ofertam caronas, lançam olhares e alguns chegam a efetivar
relacionamentos em sigilo. De acordo com as denúncias, algumas instituições,
ao apurar os casos, demitem o assediador. Outras se isentam da
responsabilidade e deixam as alunas vulneráveis em convívio com o acusado.
Na lista de nomes que circula pelo WhatsApp, há renomados professores da
região.
AMEAÇAS PÓS-DENÚNCIA
A identidade dos acusados não foi revelada nas publicações. No entanto, com
a repercussão, foi organizado um grupo no WhatsApp com algumas mulheres para
alimentarem uma lista com os nomes e a quantidade de casos atrelados a cada
um deles. Logo em seguida, elas começaram a receber mensagens intimidadoras.
Uma delas publicou um print para comprovar:
Um dos acusados envia mensagens de cunho ameaçador após repercussão
Reprodução/Redes Sociais
REDE DE APOIO
A ação desencadeada na região segue a movimentação de mulheres de outras
localidades do país que desde 25 de maio deste ano iniciaram as exposições
via Twitter com o objetivo de encorajar vítimas a denunciarem e ajudar a
reconhecer situações de violência. Os relatos publicizados devem servir para
potencializar o apoio entre mulheres e tomada de consciência sobre os
padrões de um relacionamento abusivo. Além do desabafo, apoio profissional
foi divulgado pela hashtag:
REALIDADE REGIONAL
Até a madrugada de hoje (3) eram mais de 8 mil tweets acompanhados da
hashtag. Tamanho engajamento evidencia a realidade violenta em que vivem
meninas e mulheres do Cariri, a carência de espaços propícios ao debate e a
falta de conscientização social. Vale lembrar:
Reportagem de Izabelly Macêdo/Agência Miséria