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Cada vez mais raro na carteira do brasileiro, cheques ainda movimentam R$ 667 bilhões

Cada vez mais raro na carteira do brasileiro, cheques ainda movimentam R$ 667 bilhões

(LdF/Getty Images/Getty Images)

Número de usuários vem caindo drasticamente, mas o tradicional cheque segue sendo utilizado por quem tem mais idade e para transações com valores altos.

Todo Natal, dona Adelaide Rambaldi presenteia os netos com “um dinheirinho”, como ela diz, para que escolham o presente de sua preferência. Mas ela não faz um Pix ou dá dinheiro vivo – é sempre o bom e velho cheque, meio de pagamento que a mineira, de 91 anos, não abandona.

“Uso cheque a minha vida toda. É prático para mim, porque não preciso ir até o banco tirar dinheiro, já que transferir pelo celular ou computador é algo que não sei fazer”, conta. 

Dona Adelaide faz parte de uma parcela cada vez menor de usuários de cheques no país. Ano após ano, essa opção vem sendo menos utilizada: em 2022, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), foram compensados 202,8 milhões de cheques. Embora pareça um número significativo, ele é 7,3% menor em relação a 2021 e, na comparação com 1995, quando foram compensados 3,3 bilhões de documentos, a queda é de 94%. 

De acordo com Walter Faria, diretor-adjunto de Serviços da Febraban, a expansão dos meios digitais de pagamento nos últimos anos e especialmente a criação do Pix, que em dois anos se tornou o meio mais usado pelos brasileiros, são os principais motivos para essa redução tão acentuada. 

Muitos jovens, inclusive, nunca viram um talão. “Atualmente, sete em cada dez transações bancárias no país são feitas pelos canais digitais, reflexo da comodidade, velocidade e segurança oferecidas por esses meios de pagamentos”, afirma Faria. 

Pouco familiarizada com transações online, dona Adelaide é usuária frequente do talão de cheques (Líbero Rambaldi/Arquivo Pessoal/Acervo pessoal)

Para valores altos, cheque continua sendo opção

Mesmo com a queda considerável, o tradicional cheque ainda sobrevive. No ano passado, apesar de menos cheques compensados, o volume financeiro dos documentos foi de R$ 666,8 bilhões, ficando estável em relação a 2021, quando o total foi de R$ 667 bilhões, conforme levantamento da Febraban.

A razão é que o valor médio do cheque aumentou de 2021 para 2022, passando de R$ 3.046,52 para R$ 3.257,88. “A população está usando essa opção para transações de maior valor, enquanto o Pix é utilizado em transações de menor valor, como compras com profissionais autônomos ou para acertar pequenos débitos familiares e entre amigos”, analisa o diretor-adjunto.

É nessa situação exatamente que dona Adelaide diz mais utilizar o cheque. “Para comprinhas no supermercado, pago com cartão, que sei usar, mas para quantias maiores, prefiro o cheque”. 

- (Arte/Exame)

Quem ainda usa cheque? 

Faria explica que os mais velhos, pela pouca familiaridade com os canais digitais, são os usuários mais frequentes de cheques hoje. Porém não são só eles. Como esse é um meio de pagamento que pode ser repassado, pré-datado e não cobra taxas, costuma ser útil em algumas situações específicas. 

A empresária Maira Escovar, 42, por exemplo, conta que precisa resgatar o talão de cheques de vez em quando para pagar as atividades extras da escola dos filhos que requerem o repasse do pagamento. 

“Sempre que há atividades internas, como peças de teatro, ou externas, como saídas pedagógicas, de valores mais altos, solicitam o envio de cheques por meio dos alunos para pagar o fornecedor terceirizado. Nesses casos, não aceitam outras formas de pagamento e, por isso, preciso sempre relembrar o velho uso das folhas de cheque”, diz.

Quem vai alugar determinados itens muitas vezes também precisa dar um cheque como garantia na negociação – o conhecido cheque caução, uma das finalidades mais comuns desse título de crédito. 

Para assegurar que vai devolver as peças alugadas, e sem avarias, na retirada é deixado com o fornecedor um cheque caução, geralmente de valor superior ao aluguel dos produtos, para que a empresa não fique em prejuízo caso o cliente não retorne ou danifique os itens. Se forem devolvidos como combinado, o cheque também volta para o dono.

O clássico pré-datado resiste

Outro usuário comum é quem vai realizar transações com pagamento pré-datado, em que o consumidor preenche o cheque com uma data futura e só a partir do dia anotado o cheque deverá ser depositado. 

Esse era um modo usual de parcelar as compras há 30 anos: o cliente fazia uma compra e dividia o total em diversos cheques pré-datados, com intervalo de 30 dias entre cada um. Embora o cartão de crédito faça o mesmo de forma mais segura, há pequenas empresas e prestadores de serviço autônomos que seguem trabalhando com essa modalidade, já que dispensa custos com maquininhas e taxas do cartão.

O fotógrafo Santiago Garcia (42), por exemplo, utilizou muito o cheque recentemente com essa finalidade na construção de sua casa. “Parcelei esquadrias, pedras e móveis planejados. Algumas empresas pedem cheques na entrada do serviço, para que sejam trocados com seus fornecedores e consigam supostamente segurar o valor que seria à vista para a entrega do material daqui alguns meses”, recorda.

O fotógrafo Santiago Garcia

O cheque segue útil em certas situações; o fotógrafo Santiago Garcia, por exemplo, usou bastante essa opção de pagamento na construção de sua casa. (Arquivo Pessoal/Acervo pessoal)

No caso do fotógrafo, houve problemas com o meio de pagamento durante a obra: uma empresa descontou o cheque antes do combinado e ele ainda não tinha fundos na conta para cobrir o valor. 

“Em dez dias, depositaram dois cheques que deveriam ser mensais. Como eram valores altos, eu mantinha o dinheiro em outra conta e ia passando mensalmente conforme a programação dos pagamentos. O depósito antes do programado me trouxe problemas: o banco me colocou numa lista devedora e bloqueou serviços que precisei usar, como linhas de créditos, até que regularizasse a situação, trocando o cheque pelo pagamento em espécie”, conta.

Será que um dia o cheque será aposentado?

É por percalços como o que Santiago passou que ele acredita no fim das folhas de cheque. “Os riscos sempre vão existir, tanto para quem paga quanto para que recebe, seja em papel ou no digital. Mas tenho certeza de que já temos tecnologia para criar produtos similares ao cheque e que funcionem até melhor”, comenta. 

A empresária Maira Escovar também prevê o adeus a essa forma de pagamento em breve, assim como dona Adelaide. “Acho que logo vai ser tudo pela internet”, diz a aposentada, com toda a sua sapiência. 

Para a Febraban, entretanto, o cheque ainda terá seu lugar por um bom tempo. “A tendência é que a queda se mantenha ano após ano, mas ele ainda será usado conforme a conveniência do usuário e em transações de valores mais altos”, considera Walter Faria. 

O Banco Central também não tem nenhum projeto que preveja descontinuar o cheque. Por enquanto, clientes de bancos que emitem cheque e estejam habilitados para sua utilização, se estiverem com saudade do antigo companheiro, podem tranquilamente retirar no caixa eletrônico, gratuitamente, as dez folhas mensais a que têm direito.

*Conteúdo da Agência Exame

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