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Fósseis cearenses da Chapada do Araripe estão sendo comercializados em uma loja online dos EUA

Fósseis cearenses da Chapada do Araripe estão sendo comercializados em uma loja online dos EUA

 Indiana9 Fossils/Montagem sobre reprodução

Legislação do país proíbe a comercialização desde 1942; professor da UFPI Juan Carlos Cisneros comenta o caso.

O site americano "prehistoricfossils.com" está vendendo ilegalmente mais de 200 fósseis brasileiros. Uma denúncia feita em uma rede social pelo paleontólogo e professor da UFPI, Juan Carlos Cisneros, no último final de semana, jogou luz sobre o crime. Ao GLOBO, ele comentou sobre o caso, considerado por ele um "golpe emocional". A comercialização do patrimônio paleontológico é proibida no Brasil desde 1942, em legislação criada durante o governo de Getúlio Vargas. Em 2013, o Senado aprovou um projeto de lei que tornava os fósseis patrimônios da União.

— Quando entrei no site e vi a grande quantidade de fósseis brasileiros [mais de 200], tive um golpe emocional. Às vezes, vemos em alguns sites fósseis à venda isoladamente. Desta vez, o que chocou foi a quantidade elevada, o que mostra que há um fluxo contínuo de extração do patrimônio paleontológico. Não se trata de uma coleção antiga, são fósseis que foram recém-escavados. Quando ele está há muito tempo guardado tem outro estado — diz Cisneros.

No site, consta a informação de que se tratam de fósseis com certificado de autenticidade. Perguntado a respeito disso, Cisneros afirma que, pela sua experiência, é possível dizer que os artefatos são mesmo verdadeiros, o que torna "muito difícil" uma possível explicação legal por parte da plataforma de vendas, já que o patrimônio paleontológico teria que ter sido extraído do território brasileiro antes de 1942.

Diferente da legislação brasileira, nos EUA a venda de fósseis é permitida. O que, segundo o paleontólogo, pode vir a confundir os clientes da plataforma, que não são informados por ela a respeito de leis ou regras de nenhum dos países envolvidos.

No mesmo dia em que expôs o crime em uma rede social, Cisneros também realizou uma denúncia no Ministério Público Federal (MPF) e, apesar da gravidade desse caso, faz um balanço positivo dos últimos anos.

Site americano vende ilegalmente mais de 200 fósseis brasileirosSite americano vende ilegalmente mais de 200 fósseis brasileiros: Foto:  - Reprodução

— Há dez, 20 anos, esse crime era mais comum. O Brasil tem aumentado a fiscalização. Só na última década, a Polícia Federal fez várias operações e apreensões de fósseis. Por isso, está cada vez mais raro [a venda]. A comunidade paleontológica também tem se manifestado e contribuído com denúncias. Há uma maior fiscalização nos aeroportos. Às vezes, quando viajamos com fósseis para estudos e análises somos interrogados, o que é o certo. A polícia está colocando mais atenção nisso. Contudo, sempre existem brechas. É o que os traficantes buscam — afirma o paleontólogo.

  • Em 2020, na Operação Santana Raptor, em que combatia o tráfico de fósseis na Chapada do Araripe, no Ceará, a PF prendeu duas pessoas e apreendeu 237 fósseis contrabandeados. A região é uma das três mais ricas do mundo na quantidade de fósseis. No ano seguinte, em 2021, a PF entregou todos os artefatos apreendidos ao Museu Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (Urca).

Sobre a denúncia referente ao site americano feita ao MPF no último sábado, Cisneros se mostra esperançoso e afirma que, caso a plataforma de vendas seja obrigada a suspender as vendas e, consequentemente, perder o dinheiro, será um recado para que isso não se repita no futuro. O paleontólogo também espera que os mais de 200 fósseis sejam repatriados e voltem para o Brasil.

— Em primeiro lugar espero que o MPF consiga fazer com que essas vendas sejam suspensas. Não é tão simples porque envolve o Itamarty (Ministério das Relações Exteriores), mas já aconteceu antes, então é possível. Depois, que os responsáveis sejam descobertos. Isso é mais difícil, porque não sabemos quando e por onde os fósseis saíram. São dados que podem ter se perdido e devem ser apurados pelas autoridades. Quando forem descobertos, que as vendas sejam suspensas e que 'doa no bolso' deles como um recado para que isso não se repita no futuro. Por fim, que esses fósseis sejam repatriados e voltem ao Brasil porque são patrimônios do nosso país. Eles têm uma importância científica, cultural e histórica — conclui o paleontólogo.

*Conteúdo do O Globo — Rio de Janeiro

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