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'Vende-se dindim'? Ritual de infância permanece e esfria os dias quentes do Cariri cearense

'Vende-se dindim'? Ritual de infância permanece e esfria os dias quentes do Cariri cearense

Legenda: Amendoim, coco, goiaba e tamarindo são os principais sabores vendidos por Maria da Conceição Silvestre, mais conhecida como Maninha, moradora da Vila Alta, no Crato - Foto: Paulo Henrique Rodrigues

O dindim gourmetizado é só uma evolução das receitas caseiras e que mãos de fada produzem para contribuir com a economia doméstica.

"Vende-se dindim". Quem lê o cartaz preso à porta dessas casas caiadas e geminadas do Cariri sabe: lá dentro, conservados no cantinho mais frio da galadeira, estão saquinhos de plástico coloridos capazes de amenizar um pouco o calor que faz nesta época.

À base de água ou de leite, o dindim é afeito à diversidade. Já há até o do tipo gourmet, como esse que é vendido em isopor na praça da Imprensa, endereço deste Diário.

Aqui no Cariri, também temos. Mas o dindim gourmetizado é só uma evolução das receitas caseiras e deliciosas que mãos de fada produzem nas cozinhas mais simples para contribuir com a economia doméstica.

Amendoim, coco, goiaba e tamarindo são os principais sabores vendidos por Maria da Conceição Silvestre, mais conhecida como Maninha, moradora da Vila Alta, no Crato.

Legenda: Para mim, além de parceiro fiel contra o calor, o dindim é sabor da minha infância, entre meados da década de 1980 e 1990 - Foto: Paulo Henrique Rodrigues

A aposentada tem mantido cheios o congelador da geladeira e a gaveta de um freezer. A produção é diária. Cada dindim custa 1 real. Os principais clientes são familiares. Não há caderno de anotação. Não há balcão. A venda é na base da confiança.

“Ei, tia, eu chupei dois. Aí vou deixar 10 reais. Depois eu pego outros”.

“Tia, vou levar dois de coco e dois de amendoim, tá?

Os que se esquecem de pagar são lembrados pelos clientes mais assíduos, tão preocupados em manter a sustentabilidade do negócio quanto a própria microempreendedora.

A fábrica de dindim precisa durar até, pelo menos, o começo de dezembro. Nas tardes sufocantes do Cariri, quando o ventilador mal movimenta o ar quente, eles ajudam a enfrentar mais um dia.

Uma das saudades que vovó deixou. Este colunista é consumidor adicto de dindim de tamarindo. Recomendo! É o mais refrescante. Mas há outros tantos. Qual é o seu favorito? Manga? Cajá?

Para mim, além de parceiro fiel contra o calor, o dindim é sabor da minha infância, entre meados da década de 1980 e 1990. Vovó Lourdes e tia Alzenir faziam dindins para distribuir aos netos e sobrinhos. Mas a gente queria mais.

Cruzava a rua para comprar os de coco de Dona Expedita, reconhecidamente o mais saboroso naquele trecho entre a Vila Alta e o bairro Independência. Essas três mulheres sertanejas já faleceram e quero agradecer aqui, publicamente, por terem se dedicado a essa cultura saborosa de convivência com o semiárido.

Fomos e continuamos felizes a cada verão graças aos poderes do ritual do dindim: encosta na nuca, encosta na testa, sente o sabor da fruta e congela o bucho.

Escrito por Paulo Henrique Rodrigues/Diário do Nordeste

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