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Construção de salas de cinema no Crato se arrasta há anos

Construção de salas de cinema no Crato se arrasta há anos

No Crato, as obras tiveram início, porém foram paralisadas em 2018 / FOTO: ANTONIO RODRIGUES
Mudanças de locais, problemas burocráticos e rompimento de contratos explicam o atraso para a construção das 20 salas de cinema que deveriam ser erguidas em 10 municípios, por meio do projeto Cinema da Cidade

Em maio de 2015, era anunciada a construção de complexos de cinema em dez municípios do interior cearense. O projeto Cinema da Cidade, da Agência Nacional do Cinema (Ancine), prevê a criação de duas salas em cada localidade - uma com capacidade para 100 espectadores e outra para 200. No entanto, passados quatro anos do projeto, vinculado ao programa Cinema Perto de Você, em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado (Secult-CE) e as prefeituras, nenhuma sala foi inaugurada e, na maioria dos municípios, a obra sequer foi iniciada.

A implantação dos complexos contemplará cidades com mais de 20 mil e menos de 100 mil habitantes que não dispõem desse serviço. No Ceará, devem ser instalados em Amontada, Aquiraz, Canindé, Cedro, Crateús, Crato, Iguatu, Itaitinga, São Benedito e Tauá. O investimento é de R$ 20 milhões pela Ancine e R$ 12 milhões pelo Estado. Como contrapartida, os municípios cedem os terrenos.

Dos dez municípios contemplados com projeto, apenas Crato e Crateús já iniciaram as obras, mas estas foram paralisadas. Na primeira cidade, um impasse ocorre há mais de dois anos. Orçada em R$ 2.169.524, a ordem de serviço foi assinada em outubro de 2017 e a previsão de entrega era maio do ano passado. Hoje, a obra está abandonada e cercada apenas por um tapume, que não esconde as pequenas edificações erguidas no espaço.

A paralisação se deu em março de 2018, após recomendação contrária à construção emitida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pois o local é próximo à antiga estação ferroviária, no Largo da RFFSA. Os técnicos do órgão avaliam que as salas poderiam comprometer a visibilidade de seu conjunto arquitetônico em suas especificidades e características, assim como sua importância histórica e econômica no contexto da cidade.

A princípio, a Secult acatou a sugestão, suspendeu a obra e estudou um novo espaço. Porém, sem alternativas, a construção do complexo no mesmo local foi validada. Outro ponto favorável ao Largo da RFFSA é que ele atende às exigências da Ancine: as salas de cinema devem ser próximas de centros culturais, áreas de periferia, praças, hotéis, restaurantes, pontos de transporte coletivo e de fácil acesso.

Após esse imbróglio, a obra deve avançar, conforme atesta o secretário de Cultura de Crato, Wilton Dedê. Ele adiantou que a Secult já pediu os documentos do desmembramento do terreno e uma declaração da distribuidora Enel, que garante a energia elétrica para a funcionalidade das salas. "O problema desse processo não é só do Crato, mas em todas as salas", completa.

Em Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, o local de construção das duas salas já foi modificado duas vezes. No início, seria no Centro, no entorno do Largo da Telha, mas depois mudou para se localizar nos arredores da antiga estação ferroviária, uma área que o município obteve cessão por 20 anos. "Aguardamos definição do projeto, licitação e liberação dos recursos", explicou a secretária de Cultura do Município, Lucinha Felipe. "É um projeto que vai ampliar o leque de oferta de serviços culturais na cidade", completou.

Em Cedro, as salas de cinema serão erguidas próximas à Praça dos Ferroviários, que também receberá obras de requalificação, construção de estação de tratamento de esgoto e drenagem para se tornar um grande complexo cultural do município.

Um vagão de trem será transformado em quiosque com café para melhorar a ambientação. O investimento paralelo é de cerca de R$ 190 mil, com recursos próprios. Segundo o secretário de Infraestrutura, Marcus Pitombeira, há quatro anos, a Prefeitura tentava superar a burocracia. Agora, justifica ele, a cidade conseguiu entregar todas as licenças para receber o projeto da Ancine.
FOTO: ANTONIO RODRIGUES
NOSTALGIA
Nas décadas de 1970 a 1980, três salas de cinema eram as principais atrações de lazer de Canindé. Os cines Alvorada e São Francisco, pertencentes à paróquia, e o Canindé, chegavam a lotar nos fins de semana. Eram poucas as famílias que possuíam televisores para o entretenimento pessoal, mas o tempo foi passando, a tecnologia chegando e as portas desses cinemas foram fechadas. Jessé Bianor tinha 11 anos quando foi ao cinema pela última vez, em Canindé.

"Era a única diversão que a gente tinha. Eu e os amigos da minha rua contávamos nos dedos os dias da semana para chegar no domingo. Agora, não escondo, estou na expectativa de a minha terra ter novamente um cinema. Quem sabe no próximo ano eu possa me reunir com os amigos de infância e matar a saudade", comentou o morador.

Esta expectativa se justifica, pois, a sala de exibição cinematográfica mais próxima fica a 100 km de distância, em Fortaleza. "O novo cinema será construído na Praça do CSU. As pendências administrativas já foram resolvidas com a Ancine e o projeto já foi licitado", explica a secretária de Turismo, Socorro Barros.
FOTO: ANTONIO RODRIGUES
Em nota, a Secult-CE comunicou que a documentação de todos os projetos está em análise pela Caixa Econômica Federal, agente financeiro do programa, e a expectativa é que as obras devam, finalmente, ser iniciadas em 2020. No caso de Crato e Cedro, devem ser retomadas em janeiro. Neste mesmo mês, devem iniciar em Canindé e Iguatu. As demais cidades "sofreram alterações no curso das obras por desistência da empresa ganhadora da licitação que encontra-se em fase de rescisão contratual", informou a Pasta. (Por Antonio Rodrigues/Honório Barbosa/Alex Pimentel/Diário do Nordeste)

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