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Quadrilha formada por policiais civis cobrou R$ 1 milhão de traficante para não prendê-lo, denuncia MPCE

Quadrilha formada por policiais civis cobrou R$ 1 milhão de traficante para não prendê-lo, denuncia MPCE

Operação da Polícia Federal serviu como base para investigação do Ministério Público que aponta quadrilha formada por policiais civis — Foto: Alisson Oliveira/TV Verdes Mares

Esquema contava com a participação de seis 'informantes', que eram usados para negociar com traficantes. Ministério Público denuncia 26 policiais por formação de quadrilha, extorsão e tortura.

A denúncia do Ministério Público do Ceará (MP-CE) contra 26 policiais civis, entre eles três delegados, aponta que três inspetores de Fortaleza, que fazem parte da quadrilha formada pelos agentes, desviaram parte de uma apreensão de entorpecentes e cobraram R$ 1 milhão a um suspeito de tráfico de drogas para não prendê-lo. Valor que foi repartido entre os policiais.

MP denuncia 26 policiais por formação de quadrilha, extorsão e tortura para obter dinheiro de traficantes do Ceará

A informação consta no documento da investigação realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que está dividido em 26 fatos, datados dos anos de 2016, 2017, 2018, ocorridos em Fortaleza e na Região Metropolitana. A investigação durou pelo menos três anos.

A Associação dos Delegados de Polícia do Ceará (Adepol) afirma que está tendo acesso aos autos e vai se manifestar em momento oportuno.

O processo de 298 páginas é assinado por três promotores e traz detalhes do esquema. Entre os crimes apontados pelo MP contra os agentes estão: extorsão, tortura, tráfico de drogas, usurpação de função pública, abuso de autoridade e favorecimento pessoal.

A ação é resultante da continuidade da análise da extração de dados de aparelhos celulares pertencentes a investigados da Operação Vereda Sombria, deflagrada pela Polícia Federal em 2017 e do relatório de interceptação telefônica da Operação Gênesis, deflagrada em setembro de 2020.

Traficante usado como 'informante'

Na denúncia do MPCE consta que no dia 15 de junho de 2017 três inspetores da Polícia Civil, na época lotados na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), abordaram o traficante Weverton Moreira de Brito, conhecido como "Evim", "Evinho" ou "Cabeludo".

Durante a ação, segundo o órgão ministerial, o suspeito foi encontrado com determinada quantidade de droga, momento em que os policiais exigiram de "Evim" diversas vantagens ilícitas, sob a ameaça de levá-lo preso.

"...exigiram da vítima diversas vantagens ilícitas que consistiam, além de dinheiro em espécie e drogas, do levantamento e apontamento de 'serviços' e abordagens que rendessem, da mesma forma, vantagens à equipe", diz um trecho do documento.

Após o acordo feito com os agentes, "Evim" foi liberado e passou durante alguns dias informações e detalhes necessários para a abordagem de Tenilson Lessa Lima Filho, mais conhecido como "Patrão" ou "Jumento" e de seu comparsa Nickson Eliandro de Sousa Silva, que eram os alvos que os policiais queriam capturar.

Conforme o Ministério Público, "Evim" chegou a encomendar 30 quilos de drogas à dupla de criminosos. Os entorpecentes de "Evim" foram apreendidos pelos inspetores, "como forma destes alcançarem o seu intento criminoso final".

Na denúncia, o MP afirma que para despistar a origem da droga e assegurar a operação, um dos inspetores, que é apontado como um dos líderes do esquema, apresenta o material apreendido na delegacia especializada, porém com endereço de um imóvel abandonado no Bairro Bom Jardim e com o produto pertencendo a uma terceiro suspeito de nome "Naldinho".

Um dos policiais da DCTD chega a desconfiar da versão e enxerga incongruências na explicação dada pelo agente, após fotos da droga postadas em um grupo de WhatsApp.

Extorsão de R$ 1 milhão de traficante

No dia 19 de junho de 2017, de acordo com o Ministério Público, os traficantes "Patrão" e Nickson são abordados pela equipe da Divisão de Combate ao Tráfico na posse de mais de uma tonelada de maconha.

Ocasião em os três inspetores exigiram de Tenilson ("Patrão") "a importância de um milhão de reais para livrá-lo da prisão em flagrante".

"Com o acordo, Tenilson foi poupado e o correria Nickson e a maior parte da droga foram levados e apresentados na sede da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD)...", diz a denúncia.

Parte da apreensão foi desviada para traficante

Segundo o Ministério Público, Weverton ("Evim"), traficante usado como "informante", chegou a receber 60 quilos de maconha e parte do dinheiro extorquido do "Patrão", como recompensa pela ajuda na apreensão da droga.

"Como recompensa pelos bos serviços prestados, Weverton recebeu dos policiais envolvidos 60 quilos de maconha , desviados da aprensão em tela, uma quantia em dinheiro, (entregue por Tenilson como parte do trato, que foi rateado entre todos os participantes), além da promessa de devolução de determinada quantidade de cocaína subtraída pela equipe de policiais no dia em que foi extorquido".

Inspetores criaram grupo para comemorar e negociar recebimento do dinheiro de extorsão

A denúncia do MP afirma que após as formalidades da apreensão da droga, os inspetores criaram um grupo no WhatsApp nomeado "T-FLY JEANS", onde os integrantes trocam mensagens de agradecimento e negociaram o recebimento do dinheiro.

"Na mensagem de abertura de tal grupo, um integrante diz: 'mais uma vez foi uma honra trabalhar com os senhores'. Logo em seguida, outro integrante lembra aos demais 'de apagar esse grupo e todas as conversas'".

No mesmo grupo, os agentes negociam como vão receber o dinheiro da extorsão de R$ 1 milhão contra "Patrão".

"Às 11h26min, um deles diz: 'o buzu do real é mandar ele colocar em uma mochila e mandar ele entregar no Conjunto Ceará que tem uma centena de rotas de fuga (...) Bota ele pra rodar no Conjunto...seguimos em duas motos e mandamos ele jogar a mochila em algum lugar...pegamos e fugimos (...) Nada de encontro e tal".

Nesse momento, conforme o MP, alguém demonstra preocupação e diz: "pessoal, vamos sempre apagando tudo blz".

Em seguida os participantes voltam a dialogar sobre a entrega do dinheiro.

"Às 22h28min, um membro pergunta: 'quem tá falando com ele já falou hoje? Ele tá hackeado (referindo-se possivelmente a whatsapp clonado)? . Em seguida, é respondido 'eu coloquei um adv pra procurar ele hj...me ligou de lá quando tava com ele (...) Dei um cabrito (celular) para ele ligar e tem um advogado no circuito. Marquei reunião 13h no escritório do adv".

A denúncia afirma que esse trecho restaurado da conversa foi finalizado às 11h32min daquele mesmo dia, com a mensagem "apaguem tudo", atribuída ao inspetor que seria uma das lideranças do esquema.

Na denúncia, o Ministério Público solicita ao Poder Judiciário requerimentos de busca e apreensão nas residências dos denunciados, suspensão do exercício de função pública direcionada aos agentes (alegando que os acusados possuem grande influência no Sistema de Segurança Pública do Ceará), quebra do sigilo telemático dos materiais apreendidos, afastamento do sigilo bancário e fiscal e até mesmo prisões, entre outros.

Para o Ministério Público, as ações descobertas durante a investigação configuram a prática do crime de organização criminosa.

"...todos os acostados à presente denúncia, não deixam dúvidas acerca da existência de uma estrutura ordenada e institucionalizada, com diferentes níveis de relacionamento e distribuição de tarefas direcionada à obtenção de vantagens para seus integrantes, seja vantagem econômica ou prestígio profissional, através de cadenciado e autossustentável de práticas cotidianas de crimes graves, como extorsões, torturas, peculato, abuso de poder, tráfico de drogas, dentre outros".

Por g1 CE

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