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Onze das 33 mulheres resgatadas de clínica onde viviam em celas seguem morando em centro de reabilitação em Juazeiro do Norte

Onze das 33 mulheres resgatadas de clínica onde viviam em celas seguem morando em centro de reabilitação em Juazeiro do Norte

Foto: DDM Crato

"A maioria estava dopada, eram zumbis perambulado pelos corredores", relata a assistente social Audilene Fernandes, ao relembrar o que viu no local do dia que as vítimas foram encontradas presas em celas.

Onze mulheres do grupo de pacientes resgatadas de uma clínica que mantinha as internas em celas, no Crato, seguem morando em um centro de reabilitação em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará. A assistente social Audilene Fernandes, que fez inspeção no local, contou ao G1 que encontrou uma mulher ferida e uma outra que jantava água com farinha. "Eram zumbis", disse. (leia mais abaixo)

As condições sub-humanas em que 33 mulheres viviam na clínica de repouso foram descobertas quando a Polícia Civil foi ao local para prender o diretor, Fábio Luna dos Santos, 35 anos, por suspeita de abuso sexual contra duas internas. As investigações começaram após uma das vítimas entregar um bilhete para a irmã pedindo socorro. (veja o bilhete abaixo)

Audilene, coordenadora do Centro de Referência da Mulher no Crato, ainda acompanha as vítimas e foi uma das primeiras pessoas a chegarem à clínica após o flagrante. Ela afirma que, horas após a prisão do diretor, parentes foram buscar parte das internas.

Já outras, que eram de municípios vizinhos, foram realocadas no Centro Integral de Reabilitação de Juazeiro, onde são acompanhadas por uma equipe de profissionais especializados desde o dia do resgate.

"Hoje estamos com 11 delas abrigadas, com idades entre 31 e 45 anos. Tem umas que a família não tem como ficar, pois, são muito agressivas, outras não têm família, os motivos são os mais diversos", relata a Audilene.

As outras mulheres que voltaram para as famílias também continuam sendo acompanhadas pelo equipamento da Secretaria Municipal do Trabalho e Desenvolvimento Social (SMTDS) do Crato.

"As que são de cidades vizinhas acompanhamos através dos equipamentos locais e eles estão nos dando esse retorno de como estão essas mulheres. Já as do Crato fazem o acompanhamento psicológico no nosso equipamento", disse Audilene.

'Sentia a dor na voz delas'

As mulheres eram mantidas em celas pequenas, trancadas por cadeados, em clínica de repouso no interior do Ceará. — Foto: DDM Crato

A coordenadora do Centro de Referência afirma que, em 10 anos como assistente social, nunca tinha visto nada como o que foi encontrado no local.

"Na parte de trás, no quintal, tinham compartimentos parecidos com celas, com grades. Aquilo não era um quarto, era um cubículo, que só cabia uma cama e um balde, onde elas faziam as necessidades fisiológicas. Fizemos a inspeção completa no local. A maioria estava dopada, eram zumbis perambulado pelos corredores", relata Audilene.

Durante a visita ao local, as internas relataram para a assistente social as condições que eram submetidas. "Elas informaram que eram trancadas à noite e o portão das celas só eram reabertos no dia seguinte, por volta das 7h. As necessidades eram feitas em baldes, que elas tinham que limpar. A gente sentia a dor na voz delas", disse.

A clínica de repouso funcionava desde 2015 e abrigava internas com problemas psiquiátricos, que tinham entre 30 e 90 anos de idade, e estava com o alvará de funcionamento em dias. Após a polícia constatar a situação em que as vítimas eram mantidas, o diretor do local foi autuado em flagrante por cárcere privado e maus-tratos.

No dia seguinte, o alvará sanitário do local foi suspenso pela Secretaria de Saúde do Crato, que alegou que, na ocasião da emissão, o local "'apresentava condições salubres e de funcionamento".

Água com farinha

Conforme a coordenadora do Centro de Referência da Mulher, uma das mulheres encontradas no local chegou a relatar que jantava somente com água com farinha, pois a família dela não tinha como repassar todo o dinheiro do benefício dela para o abrigo.

"Ela relatou que diretor dava essa justificativa para ela não receber a mesma alimentação das outras internadas".

O abrigo era custeado com os pagamentos feitos pelas famílias das internas. O diretor também é suspeito de desviar o dinheiro das mulheres.

Durante a inspeção no local, segundo Audilene, uma idosa foi encontrada com ferimentos na cabeça. "Ela estava em um quarto afastado, que era mais escuro, deitada na cama. Acendi a lanterna do celular para falar com ela, vi que estava com o olho roxo e um pouco de edema na face".

A assistente social afirma que chegou a questionar aos funcionários da clínica de reabilitação sobre os ferimentos na idosa e eles informaram que a mulher teria caído. "Indagamos quando teria ocorrido, mas eles não sabiam de nada. Aquilo poderia ter sido um TCE (traumatismo cranioencefálico) grave".

No mesmo dia foi feita uma força-tarefa para localizar os parentes das internas. "Entramos em contatos com os familiares, muitos responderam prontamente e foram ao local resgatar as vítimas. Uma delas era de Picos (PI) e os parentes viajaram até o Crato para buscá-la. Quando eles chegaram ela chorou bastante e ficava agradecendo", relembra Audilene.

Bilhete com pedido de socorro

Familiares entregaram bilhete de vítima de cárcere e violência sexual à delegada na cidade de Crato e investigação começou — Foto: Arquivo pessoal

Em entrevista no dia da prisão do diretor da clínica, a titular da Delegacia de Defesa da Mulher do Crato, Camila Brito, responsável pela investigação, disse que uma das mulheres pediu ao diretor da clínica para falar com a irmã e entregou o bilhete, secretamente. Familiares da vítima mostraram o bilhete à delegada e, a partir dele, as investigações começaram.

""Diga à *** [irmã da vítima] que estou sofrendo abuso sexual. Manda ela vir me tirar. Manda ela fingir que não tenho nada. Para mim poder sair . Sou eu e minha amiga que 'está ' sofrendo. Urgente. Me tire daqui. Manda ela pegar o dinheiro. Depois eu pago a ela, vem logo por favor ", escreveu a mulher mantida em cárcere e violentada em clínica.

"De imediato, nós orientamos que essas irmãs retirassem a vítima dessa casa, porque são familiares, então têm todo o direito de tirar a irmã de lá", afirmou a delegada. Após a saída da mulher da clínica, ela prestou depoimento, o qual foi importante para que a Polícia Civil pedisse a prisão preventiva de Fábio Luna.

Segundo a delegada, a vítima não sofreu conjunções carnais, mas atos libidinosos, que também são configurados como crimes sexuais, quando não são permitidos pela vítima.

Por Lena Sena, G1 CE

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