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Registros de novas armas de fogo para civis no Ceará sobem 202% em um ano

Registros de novas armas de fogo para civis no Ceará sobem 202% em um ano

Armas de fogo JN — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

O aumento é mais do que o dobro do que foi registrado a nível nacional, cujo índice foi de 90% a mais nos novos registros de armamentos.

Os registros de novas armas de fogo viabilizados pela Polícia Federal no Ceará subiram 202% em apenas um ano. Os números foram repassados pela força de segurança e compreendem a comparação entre janeiro a dezembro de 2019 e 2020. O aumento é mais do que o dobro do que foi registrado a nível nacional, cujo índice foi de 90% a mais nos novos registros de armamentos.

O aumento na circulação de armas de fogo acontece, de acordo com pesquisadores consultados pelo G1, em um contexto de flexibilização do acesso a esses objetos, promovida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Nessa segunda-feira (12), a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu trechos de novos decretos que flexibilizavam ainda mais o acesso e entrariam em vigor na terça (13).

Conforme o Instituto Sou da Paz, desde o início do mandato, a gestão federal já publicou mais de 20 normas visando a facilitação de compra e venda de armamentos.

O crescimento na circulação de armas de fogo provoca, segundo especialistas, maior número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) - que englobam homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e feminicídios. No Ceará, o índice praticamente subiu 78,9% entre 2019 e 2020. Foram 2.257 e 4.039 mortes respectivamente.

O G1 solicitou dados dos CVLIs provocados por armas de fogo em 2019 e 2020, mas a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não repassou as informações completas até a publicação desta reportagem.

Contudo, nos sete primeiros meses de 2019, 77,8% dos homicídios no Ceará foram provocados por armas de fogo; em igual período de 2020, o número subiu para 86,1%.

Maior número de homicídios

O coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), César Barreira, demonstra preocupação com o aumento nos registros de novos armamentos e afirma: "os estudos mostram relação direta entre maior circulação de armas de fogo e maior aumento de homicídios. Nesse sentido, está comprovando um resultado dos estudos feitos não só aqui no Ceará, mas no Brasil como um todo".

Na visão do gerente do Instituto Sou da Paz, Felippe Angeli, a relação entre as duas variáveis é consenso científico nacional e internacional. “É óbvio que o homicídio é um fenômeno multicausal", mas "outros fatores também vão incidir sobre essas dinâmicas de aumento ou diminuição das taxas”. Ele cita as características de cada sociedade e as possíveis dinâmicas criminais, como a atuação de facções criminosas.

"É importante deixar claro que a gente está sempre olhando pro retrovisor. Não é o que acontece hoje que vai produzir imediatamente esse aumento ou essa diminuição na tendência", completa Angeli. O representante do Instituto Sou da Paz, acredita que é possível que os efeitos da política de flexibilização iniciada no início do mandato pode estar fazendo efeitos agora.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a cada 1% de incremento na circulação de armas de fogo, há 2% de crescimento no número de mortes provocadas por elas. Além disso, um estudo do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) mostra que pessoas armadas tem 56% mais chances de morrerem em um assalto do que pessoas desarmadas.

Segundo o sociólogo César Barreira, a probabilidade de uma pessoa com uma arma utilizá-la em um conflito cotidiano é muito alta. Por isso, ele ressalta que “não é só o uso de armas de fogo nas disputas de facções. Entra também nas disputas interpessoais. Isso pode ocorrer em uma briga doméstica, briga de trânsito, entre vizinhos”, explica.

Para o pesquisador, ainda há outro agravante: os extravios e roubos específicos de armas de fogo que ocorrem no Ceará. “Nas disputas entre bandidos e ‘cidadão’. O cidadão termina levando desvantagem. A gente vê que o bandido não só ganha, ele se apropria da arma”, afirma.

Aumento nas apreensões

Dados da SSPDS apontam que houve aumento também nas apreensões de armamentos. Em 2019, foram 5.479 armas retidas por forças de segurança; já em 2020, foram 6.117 – um aumento percentual de 11,6%.

Segundo Felippe Angeli, “outra coisa que influencia muito e já está amplamente demonstrada é que a arma do dito ‘cidadão de bem’ comprada na melhor das boas intenções para sua autodefesa, muitas vezes, acaba sendo roubada, extraviada pro crime numa ocorrência criminal. Arma de fogo é objeto industrial e foi produzida de forma legal. Em algum momento entre a sua cadeia de produção e a sua vida útil, essa arma é desviada pro crime”, acrescenta.

Por Cadu Freitas

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