Garota trans morta a facadas em Juazeiro sofreu ofensas homofóbicas antes de ser assassinada, diz família
Adolescente trans de 16 anos foi assassinada a facadas em Juazeiro do Norte — Foto: TV Verdes Mares/Reprodução |
Vítima e a amiga foram perseguidas após serem ofendidas por um grupo. Um inquérito policial foi instaurado, e a Delegacia Regional de Juazeiro do Norte investiga o caso.
A adolescente trans Pietra Valentina, de 16 anos, sofreu ofensas homofóbicas antes de ser assassinada a facadas em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, conforme a família. Ela estava acompanhada de uma amiga, que conseguiu fugir do ataque.
O crime aconteceu em 5 de abril, na Travessa São Sebastião, no Bairro Pio Xll. Até esta segunda-feira (12), uma semana após o assassinato, ninguém foi preso, e o caso é investigado pelo Núcleo de Homicídios de Proteção à Pessoa (NHPP) da Delegacia Regional de Juazeiro do Norte.
De acordo com uma parente de Pietra, ela e a amiga caminhavam pelo bairro quando foram ofendidas por um grupo que consumia bebida alcoólica.
"Nessa volta que eles foram dar, eles passaram em frente a um pessoal que estava em uma casa, tinha várias pessoas bebendo nessa casa e soltaram uma piada relacionada. A única palavra que ele escutou foi 'viado'. Eles seguiram, continuaram andando, justamente pelo fato de já serem acostumados a escutar essas piadas das pessoas e eles seguiram o destino deles, para onde eles iriam", relata a parente.
Segundo a familiar, após o episódio as jovens foram seguidas por duas pessoas em uma motocicleta. "Ele (amigo da vítima) disse que após dar a volta no quarteirão do local onde as pessoas estavam, vieram duas pessoas de moto que acompanharam eles e aí já desceu da moto e já foi para o lado do Marcos [Pietra]. Como o pessoal foi por trás deles, e o Marcos estava mais atrás, o amigo dele conseguiu correr e já conseguiram segurar o Marcos e efetuar a facadas nele. O amigo dele com medo saiu correndo e foi embora”, afirma.
Homicídios de pessoas trans no Ceará
O Ceará aparece como segundo estado no qual mais pessoas travestis e transexuais foram assassinadas no ano passado. É o que mostra o "Dossiê: assassinatos e violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019", elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra).
Segundo o relatório, realizado a partir de informações obtidas pela associação com pessoas e veículos de comunicação de todos os estados, foram mortas violentamente no estado 11 transgêneros. O Ceará fica atrás apenas de São Paulo, onde foram mortas 21 pessoas no ano passado.
Os homicídios ocorreram em Fortaleza, Chorozinho, Sobral, Guaiuba, Horizonte, Pacatuba, Maracanaú, Caucaia, Tarrafas e Juazeiro do Norte
Ao todo, nos três últimos anos, foram 40 pessoas trans foram assassinadas no território cearense. Neste quesito, o estado também aparece em segundo lugar, junto com a Bahia e atrás apenas de São Paulo, cujos assassinatos somaram 51.
Casos no Ceará
Em 26 de fevereiro de 2019, Ana Lima, de 40 anos, foi morta a tiros no Bairro Alto São João, em Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. Conforme a Delegacia Metropolitana de Maracanaú, que recebeu o caso, testemunhas ouviram cerca de três disparos de arma de fogo. Ana foi atingida por tiros na cabeça e morreu no local.
Em 20 de setembro, uma travesti identificada como Bruna Surfistinha, de 26 anos, foi assassinada a tiros enquanto tomava banho dentro de uma residência, no município de Chorozinho, Região Metropolitana de Fortaleza. Testemunhas afirmam que dois homens foram vistos saindo correndo do local após o crime.
Já na manhã de 12 de outubro de 2019, uma travesti identificada como Julia foi morta a tiros, no Bairro Sumaré, no município de Sobral, a 200 Km de Fortaleza. De acordo com a polícia, dois homens chegaram a pé na rua em que ela se encontrava e realizaram vários disparos de arma de fogo contra a vítima, fugindo em seguida.
Por G1 CE